Olá, andei visitando seu blog. Acabei de digitar um artigo, referente às minhas conclusões sobre o sistema de dízimos. Dá pra postá-lo no seu blog?
Um abraço.
Um abraço.
Foi o sistema de dízimos adotado pelo cristianismo do primeiro século?
Lembro-me que no ano em que fui expulso da Igreja Adventista, entre outros questionamentos procurávamos saber também se o sistema levítico dos dízimos havia sido adotado pelos pioneiros do cristianismo. A nossa preocupação era uma só. Indagávamo-nos se Jesus e seus apóstolos haviam lançado mão do sistema de dízimos. Parecia-nos evidente que a pergunta a se fazer não era em relação à institucionalidade do sistema. Não havia dúvida de que era uma instituição que acompanhara, desde cedo, toda a história de Israel como sociedade organizada.
Lembro-me que no ano em que fui expulso da Igreja Adventista, entre outros questionamentos procurávamos saber também se o sistema levítico dos dízimos havia sido adotado pelos pioneiros do cristianismo. A nossa preocupação era uma só. Indagávamo-nos se Jesus e seus apóstolos haviam lançado mão do sistema de dízimos. Parecia-nos evidente que a pergunta a se fazer não era em relação à institucionalidade do sistema. Não havia dúvida de que era uma instituição que acompanhara, desde cedo, toda a história de Israel como sociedade organizada.
Toda organização político-social tem seu sistema de impostos. Sendo Israel uma nação cuja cultura estava profundamente arraigada à religião, todas as suas instituições teriam de assumir caráter religioso. Tudo na comunidade israelita estava circundado de conotação divina, mesmo os aspectos mais elementares de qualquer organização política. Até regras básicas de higiene, saúde pública e relações civis estavam relacionadas com a religião. Os sacerdotes, que via de regra deveriam desempenhar apenas funções religiosas, assumiam, na verdade, o papel de administrador, de juiz, de governante, de general e até de médico. Não é de admirar, portanto, que o sistema tributário de uma sociedade como essa, profundamente moldada e dependente da relação com o divino, fosse revestido de caráter sagrado tão elevado.
As leis de muitos países podem ser por demais deficientes. Mas o que qualquer Estado terá de melhor em leis será o seu estatuto de tributação. Qualquer legislador sabe que o andamento da máquina administrativa dependerá da maneira como for elaborado e posto em prática o sistema tributário. Dos impostos dependerá o andamento de todas as outras secretarias estatais. De modo similar, a máquina administrativa de Israel, centrada na religião, dependia de um sistema tributário eficiente. E do mesmo modo que a sonegação de impostos nos dias atuais constitui crime, para os israelitas a retenção dos dízimos também significava roubo, que por extensão tratava-se de crime contra Deus, já que a Casa do Tesouro era o próprio Templo, centro maior do sistema político-religioso de Israel.
Há muitas razões para se pensar que Jesus não utilizou o sistema de dízimos sacramentado para o Estado de Israel. Uma delas é que não há nenhum vestígio de que Jesus e seus apóstolos tenham, como fundadores dessa grande religião que é o Cristianismo, utilizado como meio de arrecadação o sistema de dízimos.
É bem verdade que aqueles líderes reconheciam a dependência financeira de qualquer instituição. Mesmo que seja uma instituição de caráter religioso, ela terá que lançar mão de mecanismos pelos quais sejam supridas as despesas administrativas. Nesse sentido, Jesus reconheceu o direito que um trabalhador tem ao seu salário. O apóstolo Paulo, na mesma direção, lembrou às suas ovelhas que elas podiam olhar para Israel e ver que nessa nação as pessoas ligadas ao Templo tiravam deste o seu sustento, e que de modo similar pessoas que trabalhavam arduamente semeando bens espirituais deveriam esperar receber também bens materiais. Isso demonstra que os primeiros cristãos tinham consciência de que cabiam-lhes responsabilidades de ordem econômica para com a nova instituição que surgia.
O que quero dizer, portanto, é que o aquele cristianismo incipiente adotou um método bem diferente do sistema de dízimo que vigorava em Israel ainda nos dias de Cristo. E não podia ser diferente. O sistema de dízimo vigorava em Israel como uma lei a ser cumprida pelos cidadãos judeus. Se os cristãos passassem a reivindicar o pagamento de dízimos, estariam estabelecendo uma instituição paralela, concorrendo com o Templo. Evidentemente seriam enquadrados por prática de crime gravíssimo, já que somente aos levitas cabia por direito a arrecadação dos dízimos. Evidentemente a sensata comunidade cristã não lançaria mão de tal expediente.
Há uma passagem na Bíblia bastante curiosa:
E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão. Mas aquele, cuja genealogia não é contada entre eles, tomou dízimos de Abraão, e abençoou o que tinha as promessas [...] E aqui certamente tomam dízimos homens que morrem; ali, porém, aquele de quem se testifica que vive. E, por assim dizer, por meio de Abraão, até Levi, que recebe dízimos, pagou dízimos. — Hb 7:5-9
Se prestarmos atenção, perceberemos que o escritor de Hebreus fala dos dízimos como uma instituição que ainda vigora, dizendo que “os filhos de Levi têm ordem... de tomar o dízimo do povo [...] E aqui certamente tomam dízimos homens que morrem [...] Até Levi que recebe dízimos.” A epístola aos Hebreus foi escrita antes do ano 70 A.D. Portanto o Templo ainda estava de pé, em pleno funcionamento, de modo que o escritor fala da instituição dos dízimos como ainda estando em vigor, usando o verbo no presente sobre homens que tomam o dízimo do povo, reconhecendo, assim, que a instituição dos dízimos estava vinculada ao Estado de Israel.
Em vista disso, penso que Jesus e seus discípulos, que viveram numa época em que as instituições do Estado de Israel estavam em pleno funcionamento, evitariam instituir normas que dessem a entender estarem promovendo algum movimento subversivo. Antes, pelo contrário, inteligentemente procurariam alternativas para a questão das finanças na nova comunidade que surgia. Como de fato o fizeram.
Resta-nos saber que mecanismos utilizaram-se Jesus e seus apóstolos para a manutenção da administração da nova comunidade. Como tudo no cristianismo, foi utilizado um expediente muito simples: doações voluntárias. As pessoas deveriam contribuir segundo aquilo que propusessem no coração, sem nenhuma exigência formal ou legal. As pessoas deveriam estar sensibilizadas com a causa do Reino e, a partir daí ofertariam das suas posses.
O próprio Jesus, que disse que “aqueles que pregam o evangelho que vivam do evangelho”, ele mesmo fez jus a esse direito. A Bíblia deixa claro que ele aceitava doações voluntárias, tendo, inclusive, uma tesouraria cujo tesoureiro, lamentavelmente, era Judas Iscariotes. Jesus aceitava doações de qualquer espécie. Almoçava na casa de um — como quando se ofereceu para tomar refeição na casa de Zaqueu. Aceitava pousada na casa de quem estivesse disposto a recebê-lo — a exemplo do que costumava fazer na casa de Lázaro quando estava em Jerusalém. Ele disse também que os seus discípulos, na qualidade de obreiros, deveriam seguir seu exemplo. Quando fossem sair ao campo, não deveriam levar provisões, pois onde quer que fossem encontrariam pessoas dispostas a acolhê-los (Mt 10:4-11).
Mas Jesus também aceitava dinheiro como doações. Isso se prova pelo fato de existir entre eles uma tesouraria. O próprio Judas alegou que aquele perfume caríssimo que a mulher derramara nos pés de Jesus poderia ser vendido e convertido em dinheiro. Fica bem evidente que parte alguma do dinheiro arrecadado à tesouraria de Jesus era proveniente de pagamento de dízimos, mas, insisto, tudo provinha de doações voluntárias.
Não eram somente os pobres que se achegavam a Jesus. Pessoas abastadas também o faziam, e certamente eram essas pessoas quem mais financiavam a sua obra. Zaqueu e José de Arimatéia são os exemplos clássicos. Mas gosto sempre de fazer menção à passagem em que mulheres ricas patrocinam seu ministério:
E Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana, e muitas outras que o serviam com seus bens. — Lc 8:3.
Depois da morte de Jesus e dando os apóstolos continuidade ao empreendimento da nova fé, o modelo instituído por Cristo foi seguido. Nos Atos dos Apóstolos encontramos vários exemplos de pessoas ricas fazendo grandes doações, entre elas Barnabé. Vale lembrar que o pecado de Ananias e Safira não foi o fato de terem retido parte dos bens, mas de terem mentido. Pedro fez questão de lembrar-lhes que eles tinham todo o direito de fazer o que bem entendesse dos seus bens (At 5:4). Diferentemente do que vigorava em Israel, ninguém, na comunidade cristã primitiva, estava obrigado a dar quantia nem porcentagem pré-estabelecida de sua renda.
O que quero dizer é que o cristianismo não lançou mão do sistema de dízimo levítico. Este era restrito à Israel na qualidade de Estado-nação, sem nenhum vínculo com a nova religião fundada por Jesus. Na nova mentalidade cristã, não mais predominaria aquela idéia de que “o homem roubaria a Deus” quando deixasse de pagar seus dízimos. Os cristãos são exortados a contribuir voluntariamente, de acordo com a sensibilidade do seu coração.
Marconds Linhares
João Pessoa, 25/8/2009.